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19 de Abril de 2024

Um olhar para o Brasil

O País não resiste a uma analogia simples com boa parte das demais nações. Aqui, pais sentem-se devedores

Publicado por Roberto F. de Macedo
há 9 anos

Ali estava um pai orgulhoso. Filhos tornando-se adultos, jovens responsáveis, bons alunos, carinhosos. Viviam as ansiedades naturais da idade com serenidade surpreendente para adolescentes. A família havia lhes oferecido conforto e oportunidades, como a possibilidade de fazer intercâmbio e vivenciar a experiência de conhecer outros países e culturas. Na sua volta, as crianças que partiram para essa aventura haviam amadurecido, dominado um novo idioma. Eram cidadãos do mundo.

Tudo havia saído como planejado, exceto por um detalhe nada irrisório: eles retornaram ao Brasil. E então, com a percepção aguçada pela experiência ainda impressa em suas almas, saltava-lhes aos olhos uma realidade que disputava, em magnitude, com o conforto de estar de novo em casa e nos braços dos pais. Sentiam-se reclusos e, paradoxalmente, desamparados. Haviam desfrutado, por algum tempo e em um terreno estranho, uma liberdade que até então desconheciam. Caminhavam sem medo nas ruas, digitavam e fotografavam com seus smartphones despreocupados com a aproximação de estranhos, circulavam em ônibus e trens confortáveis, a qualquer hora, mesmo depois de o sol se por. Habituaram-se a praticar uma forma de respeito que não precisava ser imposto. Descobriram que existiam lugares onde as coisas funcionavam para todos, naturalmente, como entendiam que deveria ser. Aqui, no lugar que chamavam de lar, era tudo bem diferente – e isso nunca lhes parecera tão gritante.

Ali surgia um pai em conflito. Compreendia a ânsia de seus filhos de estender aquele voo solo que iniciaram. Sentia-se frustrado por, de certa forma, impor limites no ir e vir, uma espécie de toque de recolher motivado pelo medo de que aqui, tão perto de suas asas, algo lhes acontecesse. Sempre ouvira que deveria criar os filhos para o mundo.

De repente, havia percebido que o mundo lá fora era menos agressivo e arriscado para eles do que o seu próprio quintal. Constatava que talvez esse mundo quisesse mais os seus filhos – aqueles jovens preparados para construir um futuro melhor – do que o país em que eles nasceram e cresceram.

Era para fora que seus meninos olhavam agora. Ficou difícil discordar deles. O Brasil não resiste a uma discussão lógica, a uma analogia simples com boa parte das demais nações. Aqui, pais sentem-se devedores. Era deles a missão de oferecer à geração seguinte uma sociedade mais justa, mais equânime, mais segura. Falharam. A insegurança é a marca do Brasil de hoje. Não apenas a da violência. Teme-se o desemprego, o mal atendimento na saúde, a visita de um fiscal corrupto, o policial truculento, a política rasteira. É a insegurança, acima de tudo, que espanta - não só nossos jovens promissores como muitos talentos já consagrados, empreendedores ousados, gente que faz falta a qualquer país.

O pai orgulhoso espera que seus filhos sigam em sua jornada sem fronteiras. Acredita que lhes ofereceu ferramentas para contribuírem para mudar para melhor o curso das gerações que virão, estejam onde estiverem. E promete manter-se empenhado na missão de construir um Brasil mais seguro e com mais oportunidades para todos. Um país que seja capaz de resgatar, em sua própria gente, um olhar de esperança.

Fonte: http://www.istoe.com.br/colunaseblogs/coluna/429044_UM+OLHAR+PARA+O+BRASIL+

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/um-olhar-para-o-brasil/212813133

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